A jornada pelo conhecimento de Deus

Douglas Ramalho
6 min readAug 17, 2021
Conhecer a Deus é uma jornada que perdurará pela vida inteira
A jornada do conhecimento de Deus durará toda a eternidade

Olá pessoal, tudo bem? Estou compartilhando com vocês alguns insights escritos durante a pandemia, no mês de Junho/2020. O assunto abordado é sobre a jornada do conhecimento de Deus. Estou me esforçando para escrever mais, sobre temas caros no meu coração: teologia, família e música. Não sou nenhum especialista em escrita e muito menos sobre os temas em questão, estou apenas usando esse espaço para externar algumas reflexões, pôr pra fora de maneira orgânica, o que tenho refletido nesse tempo. Caso faça sentido para você, fique à vontade para compartilhar :)

1) Deus deseja se revelar

Deus, o criador de todas as coisas, é um Deus pessoal. Desde a criação, o desejo de Deus em se revelar para seu povo sempre foi um ponto chave em toda a narrativa bíblica e nós estamos inclusos nessa história. É importante compreender que o conhecimento de Deus é um processo que Ele mesmo inicia, ou seja, só podemos ter a compreensão de quem Deus é mediante a revelação Dele (Rm 1:19 — “Deus lhes manifestou”). Entender isso é um ponto importante nessa construção do conhecimento de Deus, para que possamos compreender a soberania de Deus (ponto a ser abordado posteriormente) no desenvolvimento do nosso homem interior. Os seres humanos ficariam completamente ignorantes a Deus se Ele mesmo não se revelasse a nós.

É importante ressaltar que o conhecimento pessoal de Deus se inicia na salvação. “Mt 11:27 — Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.” A salvação é o ponto de partida para conhecermos a Deus de maneira profunda e intencional. Uma pessoa que não foi afetada pelas boas-novas do evangelho terá dificuldades em experimentar as profundezas de quem Deus é, pois a implicação “Deus vir ao homem” fica clara tanto para salvação quanto para jornada do conhecer a Deus.

Pessoas salvas desejam conhecer a Deus, pois dentro delas habita o Espírito Santo, aquele que efetua o querer e o efetuar (Fl 2: 13). Por meio do nosso esforço humano nós não desejamos a Deus (Rm 3: 10–11 — “Como está escrito: não há um justo, nem um sequer. não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus.”) Mas o próprio Deus plantou dentro do nosso interior o anseio por transcendência, por eternidade: (Ec 3:11 — “Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também colocou no coração do homem o desejo profundo pela eternidade”). João Calvino irá usar o termo “sensus divinitatis — senso da divindade”. O teólogo e filósofo Alvin Plantinga, irá explicar que esse senso da divindade é um conjunto de processos cognitivos pelos quais temos conhecimento de Deus. Por meio desse senso os seres humanos poderiam ter conhecimento de Deus e seus atributos. A primeira pergunta do Catecismo de Westminster é qual é o fim principal do homem? Resposta: O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre. (Referências bíblicas: Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.25–26; Is 43.7; Rm 14.7–8; Ef 1.5–6; Is 60.21; 61.3)

Esse anseio, quando guiado pelo Espírito de Deus, nos faz termos a postura de coração para buscarmos a Deus, contemplarmos quem Ele é. O homem busca por algo maior todos os dias da vida: muitos colocam sua satisfação no trabalho, em relacionamentos, em compras, etc, o que resulta em uma vida de frustração e de insatisfação com a vida.

Só podemos ter satisfação e alegria plena quando estamos em Cristo experimentando essa vida que brota do nosso interior por meio do Espírito. Toda tentativa de encontrar satisfação que esteja fora do relacionamento com Deus resultará em uma vida sem sentido, sem perspectiva. (Rm 14:17 — “Porquanto o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”).

Na obra “O ser de Deus e seus atributos”, o Rev. Heber Carlos de Campos faz a seguinte afirmação nas páginas 57 e 58:

“Deus criou todos os homens com a capacidade de conhecê-lo, mas teve que se lhes revelar de várias formas. A fim de que os seres humanos pudessem conhecer a Deus, este não somente deu-lhes um conhecimento que está impresso na sua própria constituição natural, como também um conhecimento que vem através das obras da criação e da sua condução da história e também o conhecimento derivado da revelação especial e revelação verbal que estão registradas nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.”

Não há nenhum conhecimento de Deus que seja inerente ao ser humano. Apenas a capacidade de conhecer é inata. Ou seja, para conhecermos a Deus, precisamos da revelação de Deus. Isso nos traz temor e humildade, pois embora possamos ler diversos livros sobre Deus, a primazia do conhecer a Deus é a ação de Deus em nosso interior. Ele precisa se revelar.

2) É possível conhecer a Deus?

Essa é uma pergunta que abrange muito mais que uma resposta de “sim ou não”, pois podemos cair no erro de adotar um discurso de apresentar um Deus distante e impessoal ou um Deus que não possui a sua maneira de relacionar com o seu povo. O profeta Oséias no cap. 6 v. 3 afirma: “Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor”. Já o apóstolo Paulo na primeira carta aos Coríntios no cap. 13 v. 12 afirma: “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”. Essas duas afirmações podem parecer contraditórias, porém se complementam. O que ambas querem transmitir é que é possível sim, conhecer a Deus, mas não exaustivamente. Nunca teremos um momento que já estaremos fartos do conhecimento de Deus. O que podemos acessar hoje, não se compara com a grandeza de quem Deus é.

Thomas Merton, um escritor católico, afirma em sua obra “Oração Contemplativa” a seguinte frase: “Não queremos ser iniciantes. Mas devemos nos convencer do fato de que nunca seremos outra coisa além de iniciantes a vida inteira!”.

Como afirmamos no início, Deus é um ser pessoal e preza por relacionamento. Ele nos fez com a característica relacional semelhante a Ele. Somos seres relacionais, valorizamos relacionamentos. Fazemos amigos, casamos, trabalhamos, fazemos compras, etc. O que há de comum em todas essas coisas é o relacionamento. Para fazermos tudo isso, precisamos nos relacionar uns com os outros. Deus não colocaria um anseio por eternidade dentro de nós, se isso não pudesse ser suprido de alguma maneira por Ele mesmo.

Podemos conhecer a Deus, mas precisamos saber lidar com o fato de que tudo que estamos vendo Nele agora é um pequeno fragmento de quem Deus é.

3) O quanto podemos conhecer de Deus?

O apóstolo Paulo usa uma expressão muito peculiar que traduz muito bem o quanto podemos conhecer a Deus nessa vida: ver por espelho. Naquela época não existia espelhos como utilizamos hoje. O que de fato existia era um metal polido, que dificilmente proporcionaria a nitidez da imagem espelhada como temos hoje. O filósofo e pastor, Jonas Madureira, no seu livro “Inteligência Humilhada” discorre sobre esse tópico de uma maneira muito clara: “O que significa ver face a face? É tão somente ver sem espelho, sem mediação.” p.40.

Ou seja, o que conhecemos de Deus é limitado, é parte, é incompleto. Não porque Ele não se revela, mas é porque não conseguimos ir mais além nessa vida, nesse processo do conhecimento de Deus. Conhecemos a Deus de maneira parcial.

Isso não nos deveria trazer uma frustração, mas sim uma expectativa, para o dia que poderemos contemplá-lo sem mediação, face a face. É empolgante saber que teremos uma vida eterna para conhecer a Deus!

Não quer dizer que esgotaremos o conhecimento de Deus na eternidade, pois Ele é o princípio e o Fim. Mas o ponto em questão, é que tudo que há em nós que nos impede de ir além no conhecer a Deus, não estará mais em nós. Viveremos uma nova vida, em um novo céu e uma nova terra.

Conhecer a Deus é uma jornada, não um evento isolado de nossas vidas. Que ecoe em nós, o mesmo sentimento que havia em Agostinho, em seu livro “Confissões”:

“Que eu te conheça, ò conhecedor de mim, que eu te conheça, tal como sou conhecido por ti. Ó virtude da minha alma, entra nela e molda-a a ti, para que a tenhas e possuas sem mancha nem ruga.” (Agostinho, Confissões — Livro X)

--

--